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"Afrosurf": a história do surf na África está sendo contada em um livro

A marca de surf africana Mami Wata lançou, no final de agosto desse ano, uma campanha no Kickstarter para o livro "Afrosurf". A ideia é contar a história do surf no continente africano. E essa história é muito mais antiga do que a gente consegue imaginar.

O continente com a maior costa de praias do mundo não poderia ter sua história do surf iniciando na visita de Bruce Brown, Robert August e Mike Hynson, quando gravavam "Endless Summer" na década de 1960. Trechos do livro, disponibilizados pela Surfer, escritos pelo pesquisador da Universidade da Califórnia, Kevin Dawson, especialista na relação do continente africano com o mar, contam um pouco da história e da relação desse povo com o surf.


Ela é muito mais antiga do que conta "Endless Summer", e tem registros de 1400, quando os africanos usavam a força das ondas em canoas para ajudar na pesca e a atravessar os mares da costa. A chegada dos europeus no continente conta com alguns registros de crianças e pescadores deslizando sobre as águas e onda. Os registros mais antigos são justamente de Ghana, onde os surfistas de "Endless Summer" encontram uma juventude que demonstrava já habilidade em cima das pranchas dos americanos: a prova de que a cultura do surf é muito mais antiga no país.

Pintura representando as canoas em ondas africanas
Pintura representando as canoas em ondas africanas | Imagem: R. Forcade

A cultura do surf africano se cruza com a cultura da pesca, quando pescadores utilizavam da força da água e remavam por horas para desbravar o mar e enfrentar a costa com ondas. Os registros mostram ao longo dos anos, que os africanos surfavam em pranchas longas de até 12 pés, canoas de um homem só e até praticavam o bodysurf. O surf era, para eles, um conhecimento passado por gerações, que transformavam essa costa em lugares sociais e culturais. Existia também uma relação espiritual do povo com o mar e "Mami Wata", que dá nome à marca de surf, inclusive, é uma divindade semelhante a de uma sereia, com poderes mágicos e conhecimentos místicos sobre o mar.


Kevin Dawson, afirma ainda que a escravidão e a diáspora do povo africano também foi responsável por levar as tradições para outros países. Registros apontam que, em 1700, escravos africanos estavam surfando desde a costa dos Estados Unidos até o Brasil.

Selema Mesekela (cofudandor da Mami Wata)
Selema Mesekela (cofudandor da Mami Wata) | Foto: Reprodução/Mami Wata

Em entrevista à Surfline, Selema Masakela, um dos cocriadores do livro e cofundador da Mami Wata, conta suas motivações e expectativas sobre "Afrosurf". Para ele, a intenção do livro é mudar a maneira como o mundo enxerga a cultura do surf, para além da história da California ou da Austrália, e de algumas ilhas do pacífico. Para ele, "Afrosurf" vai apresentar o continente africano e a sua cultura, sua comida, sua música, sua dança, a partir do surf.


Ele afirma ainda:

Eu quero que as pessoas vejam esse livro e pensem 'eu quero ir à África. Não só para surfar. Mas para ver, sentir e explorar tudo o que o continente tem a oferecer'.

O livro não vai arrecadar lucros. Uma campanha foi lançada no Kickstarter para o livro ser feito, mas todo o lucro posterior vai para duas organizações, a Waves for Change e a Surfers not Streets Children. As duas organizações ajudam a juventude africana com o surf. A Waves for Change, segundo Selema, ajuda crianças que tenham sofrido algum tipo de trauma emocional ou mental, diagnosticadas com autismo e outras questões, dentro da comunidade negra originária. Já a Surfers not Street Children tem como objetivo levar a sanidade e a autoestima para crianças muito pobres na África do Sul, ao ajudar esses jovens a encontrarem um propósito a partir do surf.

Pico de surf africano
Pico de surf africano | Foto: Reprodução/Instagram Mami Wata

Selema conta ainda que, para ele, o livro é importante pois existe uma geração "African Storm" chegando, fazendo referência ao "Brazilian Storm", e que ele espera, com esse livro, que as pessoas sintam orgulho de fazer parte da cultura do surf e saber que eles estão conectados com essas histórias e com a cultura africana. Outra motivação é fazer com que as pessoas sintam vontade de visitar a África, assim como pensam em outros lugares na hora de planejar uma surf trip.


Capa do livro "Afrosurf"
Livro "Afrosurf" | Imagem: Reprodução/Mami Wata

A campanha do livro no Kickstarter acaba no dia 21 de setembro, e serão enviadas cópias em dezembro de 2020 a quem tiver ajudado na campanha. O livro conta com perfis de mais de 25 surfistas, cerca de 14 artigos sobre o surf africano, passa por 18 países do continente, tem mais de 200 fotos e cerca de 300 páginas. Para acessar a campanha, basta clicar no link que vamos disponibilizar abaixo. Mais alguém ficou ansioso para ler o livro?


Campanha no Kickster: https://www.kickstarter.com/projects/mamiwata/afrosurf-the-book

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