John John Florence derrota Gabriel Medina em final disputada e é campeão do Pipe Masters 2020
Em domingo intenso de surf em Pipeline e dia histórico para o surf feminino, John John Florence e Tyler Wright foram os grandes campeões da etapa e largam na frente na corrida pelo título de 2021

O Circuito Mundial de Surf de 2021 começou de verdade e agora podemos dizer isso de fato.

Depois de um ano sem disputas devido à pandemia da covid-19 , a etapa de Pipeline foi uma verdadeira prova de fogo para a WSL, que teve de encarar surto de covid, suspensão da etapa feminina devido à ataque de tubarão, queda de transmissão no dia da final, mas apesar de tudo isso, finalizamos 2020 com um show de surf no dia das finais de Pipeline. E o domingo foi a última prova de fogo da WSL, que deixou para resolver os dois campeonatos no último dia possível da janela, e dessa vez, parece que Netuno ajudou. Altas ondas por todo o domingo, apesar de não tão constantes, garantiram um bom dia de finais, de um campeonato que no geral estava sendo morno, com altas e baixas e com o surto de covid acontecendo justamente durante o melhor swell da janela.
E vamos começar pelo roteiro feminino, onde o Maui Pro, foi terminar em Pipeline, num dia histórico onde as meninas surfaram Pipe pela primeira vez em uma etapa do CT. Confesso que fiquei um pouco decepcionado com essas finais, mas não surpreso. As ondas estavam pesadas, e as mulheres mal conseguiram treinar em Pipeline (o crowd selvagem em Pipe sempre dificultou todos a surfarem e treinarem, quem dirá o surf feminino que encara de frente o machismo em situações como essa), e o resultado, foi ver as mulheres buscando mais as manobras em Pipe, com exceção de Carissa Moore e Tati Weston-Webb, as duas que estavam priorizando a busca dos tubos. Tyler Wright também achou os dela, mas inclusive deixou clara sua intenção na final de focar nas manobras, quando decidiu por usar uma prancha 5'11, menos do que o habitual entre os surfistas em Pipe, e a própria Carissa, que usou uma 6'4.
Tatiana que vinha muito bem em Maui, não se encontrou em Pipeline, se tacou bastante, mas não achou a saída dos tubos. Já Carissa Moore foi a melhor entre as mulheres em Pipeline, mas a inspirada Tyler Wright, sem dúvidas a estrela do campeonato (dentro, com o único 10 da competição, e fora d'água com seus posicionamentos sobre o surf feminino e sobre a igualdade dos gêneros) saiu vencedora em final disputada com Carissa Moore.

Mas o show não parou por ai. No masculino, o cenário das semifinais foram incríveis. Quatro dos maiores surfistas do mundo se enfrentavam pelo Pipe Masters.
De um lado, Kelly Slater versus John John Florence e do outro, Gabriel Medina reeditava a final do ano passado contra Ítalo Ferreira.
Ítalo, que infelizmente não estava 100%, devido à uma lesão na lombar provocada na última onda da bateria das quartas, quando bateu no reef e o fez sair da água com muitas dores. Por isso, Ítalo foi com um colete para a semi contra Medina e fizeram uma bateria bem disputada e aberta, onde os erros (de ambos, que perderam as melhores ondas da bateria) foram mais marcantes que as ondas, e decidiram a classificação de Medina para a final.
Vale lembrar que a WSL teve um problema na transmissão durante a bateria de Gabriel Medina e Ítalo Ferreira pelo site, Youtube e aplicativo, o que nos fez inclusive ter de assisti-la pela LIVE no instagram do Jadson André (que se saiu muito bem como narrador, por sinal). Amadorismo gigantesco, já que a transmissão é o maior produto da WSL e problemas vem sendo recorrentemente levantados pelos internautas, já há alguns anos.

De qualquer forma, na bateria do outro lado, John John Florence versus Kelly Slater se enfrentavam num duelo digno de oscar.
A melhor bateria do campeonato, sem sombra de dúvidas, teve show de surf de ambos os surfistas, com notas na casa do excelente e somatória de 18,16 de John John Florence. Pra melhorar (ou não), Kelly ignorou a prioridade de John John nos últimos segundos (em bateria já ganha, onde Kelly precisava de uma onda para vencer e John John o marcava forte) e botou pra baixo saindo de um tubasso nos segundos finais. Não valeu, é claro, e zero todos os pontos de Kelly Slater devido à nova regra de prioridade (infelizmente para seus fãs no fantasy, mas felizmente pros fãs do surf). A bateria mostrou também que Kelly Slater, aos 48 anos de idade, não vai surfar só de "relances" geniais em 2021, mas que vem sim pra brigar e já começa o ano no TOP5. É uma pena que esta não seja a dupla americana para as olimpíadas. Nada contra o Kolohe, que mereceu a classificação, mas o que todos queriam ver, era John John e Kelly.
Além disso, mostrou o porque de John John Florence ser o maior desafio dos brasileiros, de novo, esse ano, numa briga direta entre Italo, Gabriel e o havaiano.
Chegamos às finais! Gabriel Medina e John John Florence, os bicampeões que disputaram diretamente o título mundial nos últimos 5 anos, por incrível que pareça, se enfrentaram pela primeira vez na história em uma final, com briga direta por uma etapa. E foi uma batalha incrível, muito disputada, e super estratégica. Medina saiu bem na frente, fez duas ondas medianas que o colocaram com o controle da bateria nas mãos, enquanto John John começou errando bastante, mas quem ri por último, ri melhor. Medina, com a prioridade e sangue de gelo, esperou pacientemente por vários minutos a melhor onda da bateria vir, enquanto John John ia pegando as ondas medianas e fazendo seus scores. A estratégia de ambos foi certa, até que a decisão veio nos minutos finais, a série veio com duas boas ondas, a segunda sendo melhor, Medina deixou a primeira para John John, que pontou bem, e na segunda onda, a melhor da bateria, colocou em um tubasso, mas não conseguiu sair. Se saísse, era 8,0, 9,0 pontos e título da etapa.
Venceu quem errou menos, e o resultado foi justo, em uma boa batalha, para o melhor surfista da competição, já que Medina e Ítalo não conseguiram fazer o que fizeram em Pipe nos últimos anos, pegar aquela onda excelente, nota 10, que a WSL costuma dar 9. É claro que no caminho tem sempre aqueles "detalhes" duvidosos, uma onda subvalorizada e Medina, algumas mais valorizadas dos gringos (Jadson por exemplo, foi nitidamente "garfado" na nossa opinião, contra o Kanoa), mas enfim! Vamos acompanhar atentos ao desfecho do mundial em 2021.

Seguimos no ano que vem, com janela aberta a partir de 19 de janeiro, para a etapa de Sunset Beach, também no Havai. Quem será que leva essa?
Confira abaixo como ficou o ranking das duas categorias após a 1ª etapa do Circuito:
