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Surf em Hossegor: Conheça um dos beach breaks mais potentes da Europa #Surf&Ciência

A França recebe a etapa do mundial de surf há 26 anos, e a região de Hossegor é a mais conhecida entre as ondas do litoral do país, que apresenta alguns dos melhores beachbreaks do mundo. Nessa matéria da coluna #Surf&Ciência, o oceanógrafo Douglas Nemes explica pra vocês como funcionam as ondas de Hossegor e fala da probabilidade de boas ondas para a etapa francesa de 2019

A perna europeia do Circuito Mundial de Surf começou, e me espantou de ver que ainda há muitos brasileiros que mal sabiam que tinha onda boa na França, e que uma trip pra lá se resume em ir à Paris e ver a torre Eiffel. Meus amigos(as), não é a toa que a França é um dos destinos da WSL, sediando anualmente a 9ª etapa do CT. As praias da França tem alguns dos "beach breaks mais powers" do mundo e vamos explicar aqui algumas das principais características físicas que fazem com que isso aconteça.

Primeiramente, olhando pro mapa ao lado, reparem que a França está no golfo de Biscaia, o qual tem a forma similar ao de uma ferradura. A abertura do golfo de Biscaia está geograficamente orientado para a área de geração de ondas do Oceano Atlântico Norte. Os ciclones extratropicais com pistas de ventos nas direções noroeste e oeste são os principais geradores das maiores energias de ondas para o Golfo de Biscaia. Quando a energia das ondas entra no golfo ela é convergida até seu interior, isto é, "não tem pra onde escapar", já que a França (Hossegor, local do campeonato) está geograficamente no interior do golfo.


Outra característica física é que a zona oceânica (profundidades maiores do que 1.000 m)  do golfo de Biscaia está muito próximo da costa, deixando a plataforma continental muito estreita, ou seja, gerando mais "power", já que as ondas não sofrem perdas por atrito ou fenômenos de refração, como acontece no sul e sudeste do Brasil (onde a plataforma continental tem 200 km de extensão e a onda perde muita energia). Não bastasse todo este privilégio para os surfistas locais (País Basco, Espanha, França), ainda há um pequeno canyon profundo que "guia" as ondas até as praias de Hossegor.


Por fim, a quantidade de movimento e energia das ondas que atingem as praias da França definem o tamanho do grão de areia grosseiro, que podem chegar à 2mm de espessura. Para fins comparativos, a areia de Copacabana é menor do que 0.5 mm de espessura... (essa é explicação daquela famosa frase "o fundo do Rio de Janeiro não suporta grandes ondulações"). Enfim, com esses grãos tão grossos em Hossegor, esses grandes bancos de areia formados na praia conseguem suportar swells gigantes, com alturas de quebra de mais de 10 m.

No CT este ano, houve a mudança do período da etapa de setembro para outubro, o que por ser mais próximo do inverno gera maior probabilidade de swells na região, o que é justamente o que vai acontecer. Para a janela de espera do campeonato mundial da WSL em 2019, está previsto a passagem de 3 ciclones (3 últimas imagens acima), cujas pistas de ventos estarão geograficamente posicionadas de maneira a garantir altas ondas durante toda a semana do campeonato. Que sorte, ein!? Então fiquem tranquilos que o show de surf está mais que garantido este ano!


E caso você tenha ficado interessado em ir pra França conhecer além da torre Eiffel, pense seriamente em fazer uma trip de surf pelo Golfo de Biscaia, onde pode percorrer todo o País Basco, o qual está no contorno sul do golfo, pegando altas ondas em Mundaka, Zarautz, San Sebastián, entre outras praias até chegar na França. Antes de chegar nas bancadas de Hossegor, Capbreton e Seignosse, passe antes em Biarritz e Anglet, depois visite Lacanau. Você vai pegar altas ondas e conhecer lugares lindos, talvez até esqueça que existe a Torre Eiffel.


Então é isso galera, que o campeonato seja recheado de show de surf e, caso vá viajar, desejo-lhe boas ondas! Au revoir e até a próxima semana!

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Autor: Douglas Nemes (@surfingandstudying)

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