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Surfista Claudinha Gonçalves e filmaker Yana Vaz dominam a Laje de Manitiba nesse outono

Um pico de surf em fundo de pedra (slab) insano localizado em Jaconé, próxima à Saquarema, e que nas condições certas quebra perfeito (e grande) para os surfistas que tem coragem de encarar e botar pra baixo nessa onda oca e imprevisível. Em abril de 2019, as condições estavam ideais e foram ELAS que roubaram a cena, surfando e registrando tudo num dos slabs mais temidos do Rio. Confira como é surfar em slabs conhecendo mais a bodyboarder e filmarker Yana Vaz.


3,2,1 ... respira e vai.

Primeiramente queria começar dizendo o quanto estou amarradona em ser a nova colunista do Canal Surf Storm! Tenho experiência em falar sobre minhas vivências de uma forma bem pessoal mas falar sobre surf feminino em um canal com tanta gente lendo é a primeira vez e definitivamente me deixou feliz demais (e um pouquinho nervosa).

O surf feminino caminha para um crescimento notável, as mulheres chegaram com o pé na porta sabendo e deixando bem claro aonde querem chegar, exemplos disso são as diversas mudanças na categoria feminina pela WSL, mulheres crowdeando e buscando seus lugares nos picos, mulheres atrás de big swells, pegando onda grande na remada, de tow in, não importa como ... As mulheres estão na água e isso é um fato.

A onda quebra em cima um fundo de pedra raso. Na foto, Lucas Chumbo domando a laje

Hoje vim falar sobre duas mulheres casca grossa que fizeram a mala em um dia de swell em abril na laje do Manitiba, uma laje em Jaconé que já saiu com destaque na Surfline em 2006 como a chamada Brazilian Teahupoo. Yana Vaz fotógrafa/filmmaker de ondas grandes (ex atleta de bodyboard) e Claudinha Gonçalves atleta e também uma das representantes com voz mais ativa no cenário brasileiro do surf feminino foram agraciadas com as melhores imagens e ondas do dia.


O surf em lajes no Brasil parece estar cada vez mais no foco para surfistas experientes e que gostam de ondas mais desafiadoras. Encontrei com a Yana para me contar dos desafios e detalhes desse dia e vocês podem conferir um pouco do nosso bate papo abaixo:

Yana Vaz já foi campeã brasileira de bodyboard e hoje é fotógrafa e filmaker independente

Yana vinha acompanhando a previsão do swell e no dia anterior tinha certeza que a laje de Jaconé iria funcionar, ligou para todo mundo que achava que estaria lá mas acabou se movimentando e indo sozinha para Saquarema. A onda fica a uns 200 metros da praia de Jaconé nadando com um quebra coco na beira super chato de passar. O mar nesse dia deveria ter de 8 a 10 pés e então ela foi pra água. Havia uma galera de peso que gravava para um programa de TV enquanto ela fazia imagens independentes, e foi então que a única caixa estanque da produção da tal produtora de TV acabou dando problema, mas Yana estava lá para registrar esse dia épico e não deixar nenhuma imagem passar (que sorte a deles hein, não é mesmo?).


Comecei perguntando sobre como é a dificuldade de surfar e filmar em slabs, e como ela achava que tinha sido aquela onda para Claudinha:

"O surf em slabs é um surf em cima de lajes. Surfar em slabs é um desafio porque você nunca sabe o que aquela onda vai se tornar, ela é como um monstro vem irregular, é uma onda um tanto maluca, um pouco cabulosa, ma ela pode ficar perfeita, em alguns locais o surfista chega a ficar quase em negativo entre a onda e laje.
Para fazer as imagens o posicionamento é bem complicado pois há muita correnteza, ondas fortes na cabeça e você não sabe o que esperar, Não é para quem quer, mas para quem sabe se posicionar ali e está disposto a correr o risco.

Para Claudinha aquele dia deve ter sido incrível, é a primeira vez que a gente vê uma mulher desafiar um slab desses numa linha tão perfeita. Ela não foi lá e só botou para baixo, se jogou. Ela sabia o que tava fazendo e foi isso que mais me impressionou nela eu vi tudo que ela fez, o momento do drop, a hora que olhou pro lip, freou, segurou para fazer a linha perfeita do tubo para não subir muito e rodar junto com a onda, ela foi perfeita. Inclusive ela fez a linha mais linda do que muito homem que já vi botando para baixo, o tubo foi impecável e sem a menor dúvida a onda dela foi a maior do dia. Fomos privilegiadas naquele swell. Foi um momento épico, uma fotógrafa e uma surfista na maior onda do dia em um slab, coisa nada comum ainda mais para duas mulheres. Foi uma conquista. Máximo respeito à ela por esse dia:''


ADICIONAR VIDEO: CLAUDINHA DOMANDO A LAJE DE MANITIBA - YANA VAZ.


Yana me falou também sobre o preconceito com as mulheres no universo do surf, que apesar de estar diminuindo, continua infelizmente marcando presença:

"Sofremos preconceito sim, sofremos muito por ser mulher mas as coisas estão mudando. Dê uns 3 meses para cá principalmente após o ocorrido com a surfista Tina estão tendo um olhar mais respeitoso com as mulheres até porque ninguém quer ficar com a fama de ser um cara machista, babaca nos dias de hoje porque discrimina uma mulher dentro da água."

"Sempre existiu o preconceito e machismo disfarçado de gentileza aquelas frases de: “o que ela tá fazendo nesse mar?”, “ela vai se matar”, “o mar tá perigoso para você”.

"É um meio bem doloroso se a gente não estiver preparada, dá um pouco de vontade de desistir mas ao mesmo tempo que esse tipo de coisa acontece, muitas coisas boas acontecem em troca então apesar de ter muito para falar do machismo eu não gosto de ficar reclamando prefiro agradecer as oportunidades."


Conforme ia escutando as histórias vividas por ela, sua rotina de trabalho, sua história de vida, difícil era não querer saber como era a sua preparação para encarar essa rotina casca grossa, então nada mais justo do que perguntar como era o seu treino:

‘Minha rotina é natação e corrida todos os dias, faço também uma natação prosurf ( que é um mix de natação, com apneia, e simulações de vacas com apneia sem ar) que foi onde obtive o psicológico confiante sabendo que aguentava ficar um tanto tempo embaixo da água,"


Porque uma coisa é você treinar, outra é confiar no seu preparo físico quando a situação fica extrema. O problema é o pânico, você não pode deixar ele chegar em você. Milhões de coisas podem acontecer nesse tipo de mar, você precisa conhecer seu equipamento, saber que tipo de colete você vai usar, e se vai usar, conhecer as técnicas e aperfeiçoar com o dia a dia. Tem que estar preparado.

Finalizo perguntando sobre as metas dessa mulher inspiradora e ela me responde simples assim:

‘Nazaré. Estou indo para um temporada em Puerto Escondido agora em maio, que é um local que me sinto bem íntima pois já era um lugar que surfava antes. Já fotografei em Puerto de dentro da água mas é um local bem perigoso, difícil de fazer imagem, uma amiga Maria Fernanda rompeu os ligamentos do joelho lá tentando conquistar o espaço das fotógrafas aquáticas.

"Acho que nós mulheres às vezes temos nossos feitos tão abafados que precisamos fazer essas proezas para tentar ser reconhecidas."

Um exemplo disso é a Sasha que entra em Mavericks para fotografar de dentro da água, com tubarões brancos, ondas gigantes e água congelando. Mas com certeza minha meta é Nazaré de dentro da água, no jetski e com muito preparo para estar pronta se algo sair fora do planejado.’ E foi assim que foi, cheio de inspiração, histórias boas e bate papo fluido com Yana Vaz que sai a minha primeira matéria aqui. Viva o surf feminino e ficamos na espera de mais histórias inspiradoras como essa.


Quebra tudo Yana. ♥


Escrito por: Thamy Off :)

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