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Conheça Michaela Fregonese, a 1ª mulher a vencer um campeonato de ondas grandes no Brasil

No Crowd Florido de hoje, começamos a série "Surfistas que Inspiram" e conversamos com a big rider Michaela Fregonese, a primeira mulher a vencer um campeonato de ondas grandes no Brasil. Uma atleta casca-grossa, orgulho pro Big Surf brasileiro e uma verdadeira inspiração pro surf feminino

Michaela Fregonese surfando ondas grandes no Hawaii

Oi meninas, Sentiram falta do Crowd Florido por aqui? Hoje temos uma convidada para lá de especial para apresentar para vocês, tive o prazer de conversar com a Michaela Fregonese surfista Big Rider casca grossa e que fez história ganhando no começo do mês (set/19) o Itacoatiara Big Wave, o 1º campeonato de ondas grandes com categoria feminina no Brasil!

Como tudo começou


O surf entrou na vida de Michaela logo aos 12 anos com o bodyboard.. e como morava em Curitiba, era a clássica surfista de final de semana pois o mar ficava muito longe da sua casa. Logo Mica foi pegando o gosto pela coisa e aos 15/16 anos trocou o bodyboard por sua primeira pranchinha e no ano seguinte foi morar em Floripa, onde aí sim, o surf começou a ser ainda mais presente em sua vida. Participou de competições, alcançou destaque na revista Fluir e lá começou a pegar ondas com mais tamanho das quais estava acostumada.

‘Sempre fui mais corajosa, me jogava mesmo.’ - me disse sorrindo.

Porém, disse que o verdadeiro divisor de águas, onde a paixão pelo surf de ondas grandes começou, foi em sua primeira surftrip para Noronha onde surfou na Praia da Cacimba do Padre (onda no Brasil conhecida como o “Hawaii Brasileiro” pela sua potência).


Vida de Big Rider e perrengues


Michaela já surfou em diversas ondas grandes e perigosas pelo mundo, Nazaré, Puerto Escondido, Banzai Pipeline, slabs pelo Brasil e muitas outras bombas de assustar qualquer um... mas quando perguntei sua onda preferida, ela me disse sem exitar:

‘Em Jaws a onda é perfeita, a água é quente, é um visual lindo, tem muita energia, realmente não tem comparação com qualquer outro lugar.’

No Hawaii teve seus maiores perrengues, um deles, quando estava surfando em Pipeline, na época que ainda não se usava colete, onde tomou uma série inteira na cabeça e naquele dia achou que realmente iria se afogar, mas por fim conseguiu sair do mar..


Teve perrengue também em Jaws, mas dessa vez já usando colete, que te dá uma segurança a mais, mas mesmo assim me contou quão cansativo é ser massacrada por aquelas ondas gerando uma mega exaustão e tendo que controlar seu psicológico enquanto era arrastada para as pedras. Por fim, foi resgatada por Pedro Scooby e deu tudo certo.


Isso sem falar do susto que sofreu agora em Puerto, né?!

Michaela Fregonese sofre grave lesão em Puerto Escondido, na Puerto Escondido Cup.
Michaela Fregonese sofre grave lesão em Puerto Escondido

Em sua primeira onda no campeonato de ondas grandes em Zicatela, no México, Michaela teve sua barriga perfurada em três camadas enquanto tomava a série na cabeça, em uma das ondas sua prancha voltou no repuxo criado pela onda e acabou acertando e cortando sua própria barriga, na hora ela não entendeu a gravidade da situação mas ao chegar no hospital foi informada que poderia inclusive ter pego em algum órgão (o que seria muito mais grave e que bom que não aconteceu) e que teria que ficar afastada por pelo menos 60 dias do mar (o que acabou rolando com 50 dias e não 60).

Sua rotina de treino para isso é intensa: surfa, faz funcional, natação e yoga quase todos os dias mas dá 1 ou 2 dias de descanso para o seu corpo descansar também.

Itacoatiara Big Wave

Itacoatiara Big Wave
Michaela Fregonese é a primeira surfista a vencer um campeonato de ondas grandes no Brasil

Obviamente perguntei sobre como foi fazer história, participando e ganhando o Itacoatiara Big Wave, logo após se recuperar de lesão.. como dissemos, em julho, Michaela sofreu um acidente enquanto estava participando da etapa da Puerto Escondido Cup, onde teve 3 camadas de pele da barriga perfumadas pela quilha. O Itacoatiara Big Wave foi o primeiro campeonato que disputou após a lesão.

‘Foi uma alegria muito grande, já estava há 50 dias sem surfar, mas na semana do campeonato fiz uns exames para checar se estava tudo certo, e os resultados saíram numa quarta (2 dias antes do campeonato), e no dia seguinte eu já estava pressionando o médico para saber se poderia surfar, ele deu ok e eu liguei para o Léo confirmando a minha presença e meu retorno para dentro da água.'
Michaela Fregonese botando pra baixo na onda que lhe daria o título do Itacoatiara Big Wave. Foto: Glauco Ribeiro
"Na sexta, dia do campeonato, eu estava feliz demais! Mas é claro que a gente acaba pensando um pouco no acidente, não queria me machucar de novo.. Na minha primeira onda eu vaquei, nem percebi que a onda tinha aquele tamanho todo, foi um caldo pesado mas eu vi que estava tudo bem então pensei "vambora agora vou pegar a boa" e foi isso que eu fiz. Fiquei surpresa com a repercussão do campeonato e estou bem satisfeita. Espero que tenha sido o primeiro de muitos.” - me contou Michaela.

O Surf de ondas grandes para as mulheres


Por último perguntei como ela vê o crescimento do surf de ondas grandes e se ainda sente que existe muito machismo dentro da água:

‘Ainda é um esporte com pouquíssimos adeptos, pois é bem caro e falta patrocínio. Como acompanhamos swells precisamos comprar as passagens em cima da hora, as pranchas são enormes então paga-se muito pelo transporte, e com as potências das ondas quebram facilmente. Se for um lugar muito frio ainda tem as roupas de borrachas e equipamentos mas está tendo sim seu crescimento, é um esporte de risco e tem cada vez mais gente saindo da sua zona de conforto.'
Michaela bota pra baixo em JAWS e se impõe no crowd voraz havaiano

'Sobre o machismo ainda tem em todo lugar né ? E no surf não ia ser diferente, o surf é um esporte egoísta, todo mundo quer pegar a sua onda sozinho, ter seu momento, ainda mais em dias clássicos, em ondas grandes, onde o crowd está voraz atrás do seu momento de glória mas é preciso se impor e mostrar para que veio. Quando rola uma indisposição a gente dá um sorriso, tenta levar tudo na boa e assim estamos conquistando o nosso espaço dentro da água.’ disse ela com uma voz de menininha fofa e seu sotaque curitibano mas que pega ondas monstruosas.

Ganhando a etapa de Itacoatiara, Michaela foi convidada mais uma vez para participar da janela do campeonato feminino de ondas grandes de Waimea, "Queen of the Bay", no Hawaii, com janela aberta entre os dias 1º de outubro à 21 de novembro, no North Shore de Oahu. Michaela se junta à outras 4 brasileiras: Raquel Heckert, Nicole Pacelli, Silvia Nabuco e Andrea Moller para representar o Brasil no campeonato.


Na temporada passada, o evento exclusivo para mulheres, acabou não acontecendo por falta de ondulações, então vamos torcer para Netuno se inspirar e mandar um bom swell para podermos ver esse show do surf feminino e ver a Michaela quebrando tudo pelo Brasil. Com certeza vamos acompanhar e torcer muito aqui pelo Canal Surf Storm!

A letra M cai bem para Mulher Maravilha, mas isso caracteriza Michaela Fregonese, surfista de ondas grandes, mãe, uma simpatia e inspiração total. Foi uma honra entrevistar alguém que me inspira tanto e espero que inspire também outras meninas que assim como eu querem surfar ondas com um mais tamanho um dia.


Muito obrigada por essa troca, Mica! ♥

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Escrito por: Thamy Off